Sem profissionalismo, qual o futuro do Cross no Brasil?
Na semana passada tivemos a notícia de que o maior locutor de eventos do Brasil, Marcelo Prata estará se afastando da locução. Já nessa segunda, foi a vez da voz do TCB, Zappa, anunciar sua parada. Os motivos, segundo ambos, teriam sido vários entre eles, a falta de valorização das competições com o trabalho. Contudo, conversando com alguns amigos do meio, locutores, donos de marca e até mesmo produtores de evento, a realidade exposta por Prata e Zappa está de fato abrindo uma perigosa porta para a modalidade. Aliás, uma porta que poderá fazer com que a modalidade retorcesse.
Por questões óbvias, preferi não expor os nomes. Porém, podemos dizer que de cinco, quatro disseram que pensam em se desligar do Cross. Contudo o que assusta é que, por mais diferente que sejam as funções exercidas, todos são unânimes pelo motivo de parar: A falta de profissionalismo. Para os locutores, é a falta de profissionalismo dos produtores de eventos na hora de pagar valores mais justos, optando sempre pelo mais barato ao invés do melhor. Para os donos de evento, o grande problema é a falta de profissionalismo dos demais produtores em não respeitar ou não criar de forma conjunta, um calendário de eventos. Afinal, com um calendário onde as competições não se choquem poderia ser a saída para de fato os praticantes se programarem para competir. Dessa forma, tendo uma maior possibilidade de ter os eventos acontecendo de maneira mais completa.
Para as marcas, as reclamações passam desde os valores cobrados para expor seus produtos nos eventos. Até o trabalho desleal de algumas marcas de tentar sabotar o trabalho uma das outras. Mas o que isso quer dizer de fato? Para falar a verdade, não é necessário nem fazer uma análise muito funda para entender que com essa falta de profissionalismo, daqui a pouco grandes marcas e eventos estarão fora do Cross. Quem perde com isso? Os praticantes.
Culpa só dos eventos e marcas?
Outro questionamento que aparece nesse momento é de quem é a culpa do atual cenário, só das marcas e dos eventos? A resposta com certeza é não. Afinal de contas, tudo isso só existe porque tem pessoas que consomem, senão para que existiriam marcas e eventos, não é verdade? Então sim, a culpa é também dos praticantes, os mesmos que topam trocar eventos de qualidade por outros mais baratos, como falei anteriormente em outro artigo.
Visando isso, nós praticantes, temos sim que procurar, exigir e com toda certeza, investir em produtos bons para nós mesmos. Só assim, o produtor do evento vai entender a importância de comprar água para área do atleta e procurar sempre mais qualidade em tudo. Cabe também aos praticantes exigir isso. Lembrando a máxima do “direitos e deveres”. O praticante tem o direito de reclamar sim por melhorias, mas também precisa fazer por onde. Estudar e escolher as melhores competições é uma maneira de conseguir melhorar o cenário.
Assim como optar por boas marcas na hora de comprar seus produtos. Veja o histórico, o que as pessoas falam dela, se ela tem os cuidados necessários. No caso de equipamentos, procure ver o que falam dele, o mesmo quando falamos de roupas. Aliás, muitas marcas nascem todos os dias, aproveite para experimentar e dê sempre o seu relato se é boa ou não. Pontos como esse, ajudam e muito ao filtro natural acontecer. No final das contas quem ganha é de fato a modalidade.
Valores Injustos
No quesito dinheiro, a grande reclamação vem de todos os lados. Os produtores reclamam da dificuldade de se montar um bom evento pelos mais diversos valores cobrados por locação, equipamentos e etc. As marcas reclamam dos valores cobrados para compor o evento e dos valores cobrados pela concorrência. Enquanto os que trabalham reclamam dos valores oferecidos. Contudo, todos essas reclamações chocam com o mesmo fator, a concorrência desleal.
Para um produtor de evento, criar a competição com bons equipamentos, estrutura de qualidade e algo que realmente valha a pena com boas marcas de exposição e bons profissionais atuando, torna-se caro. Como consequência isso reflete no valor da inscrição. Esse fato quando de encontro com outro evento com uma estrutura inferior, mas que cobra mais barato, torna-se complicado para que a competição consiga se pagar. Como resultado começam as maneiras de como transferir os gastos e
os cortes de custos. Tudo isso impactando seriamente a competição e quem nele está.
Uma maneira de diminuir a inscrição é aumentar o valor do aluguel de espaço para as marcas. Como consequência, as marcas necessitam vender absurdamente durante a competição para ter um lucro mínimo, o que começa a deixar de ser sedutor para o pequeno empresário. Outra saída está na diminuição de custo, o que gera os cortes nos cachês pagos a quem trabalha, entre eles estão os locutores. Como podemos ver, tudo está interligado.
Falta de união
Não sejamos inocentes, tudo que envolve dinheiro, ou pior, ego é difícil de lidar. Concorrência é o que faz o mercado andar, mas muitos dos problemas enfrentados por todos os segmentos no Cross vem da desunião. Para demonstrar isso, prefiro utilizar um exemplo simples, real e que acontece aqui na HORA DO BURPEE. Nós somos um site de notícias de CrossFit, assim como o HUGOCROSS é um site de notícias de CrossFit, ou seja, somos concorrentes diretos, temos a sede por informar primeiro, um na frente do outro. Afinal, esse é o nosso mercado, mas nunca um puxou o tapete do outro. Muito pelo contrário, temos inúmeras matérias realizadas em conjunto.
Porque essa realidade não pode acontecer entre eventos, marcas e locutores? Volto a citar a importância da criação de um calendário de eventos nas cidades, estados e país. Todos sabem quando serão as Seletivas TCB ou a Copa Sur, com isso não marcam seus eventos para o mesmo dia, porquê não ter a mesma visão com as demais competições? Dando assim um respiro para o praticante para que ele possa se inscrever nos eventos sem precisar sacrificar sua saúde ou deixar de fazer uma competição para ter que fazer a outra? As marcas podem ter espaço para todos, basta atentar-se mais a qualidade e menos no quesito preço desesperadamente. Na locução, se existe um preço básico, porque não respeitar isso e para de diminuir ele, fazer de graça ou simplesmente atravessar o colega de profissão?
Assusta essa dura realidade onde a falta de profissionalismo é maior do que a vontade de fazer o Cross dar certo. Estamos vendo locutores de nome deixarem a arena, daqui a pouco teremos eventos saindo de cena, logo após marcas e no final até os próprios praticantes vão acabar indo embora. Então, finalizo esse artigo com a mesma pergunta que comecei ele: sem profissionalismo, qual o futuro do Cross no Brasil?