Análise: O que Dave Castro quer de fato com os cortes?

Foi noticiado por Dave Castro, que voltou a assumir o posto de GM Sports da CrossFit, após a saída de Justin Bergh, que os Games desse ano terão dois cortes. Contudo, após essa informação, uma enxurrada de críticas começou a aparecer. Muitas pessoas foram extremamente contra os cortes. Afinal, para muitos isso é injusto e o formato que vinha acontecendo desde 2021 pareceu agradar mais. Pensando em explicar melhor a necessidade dos cortes, Dave utilizou seu canal no YouTube para pontuar o motivo da decisão. Aliás, o Gerente de Esportes, ainda fez questão de falar que a decisão tomada foi dele.

Porém, existem pontos a serem destacados nessa mudança que podem ser positivas e outras nem tanto. Mas a primeira coisa que ficou bem clara nas falas de Dave Castro é a necessidade de diminuir o tempo de competição. Atualmente o número de baterias que acontecem até o momento da chegada dos primeiros colocados que estão de fato na possibilidade de brigar pelo pódio, são muitas. Dessa forma, torna a competição muito longa, quando falamos de CrossFit Games estamos falando de quatro dias de competição. Dificilmente alguém consegue ficar de 9h às 21h acompanhando cada momento do Games durante os quatro dias.

Com isso, a ideia de diminuir o número de atletas com o passar dos dias, faz com que o tempo de evento também diminua. Permitindo um maior espaçamento entre as provas, mais descanso para os atletas, mais descanso para a produção e para os espectadores. Tornando interessante até mesmo para os patrocinadores do evento, que terão a oportunidade de explorar melhor a competição. Uma vez que a audiência poderá estar mais alta com menos baterias.

Diminuir atletas torna o evento mais lucrativo financeiramente

Há também o fator lucrativo. Não só de termos menos pessoas possivelmente trabalhando no evento, uma vez que temos uma diminuição de competidores. Mas também, uma certeza maior de pessoas assistindo a competição em determinados horários, possibilitando assim uma maior negociação com as marcas que poderão vir colocar sua publicidade no evento.

Afinal de contas poderemos ter a certeza que em determinado momento teremos a maior ou a menor audiência do público. Também temos a realidade que dificilmente poderão ocorrer atrasos de uma bateria a outra. Muito embora os atrasos no Games praticamente não aconteçam.

Embora pareça ser uma atitude “mercenária” do Games, esse é um fato que acontece com muita frequência nos esportes e ajudam nas questões de profissionalização. Um exemplo simples de um esporte que necessitou uma diminuição foi o MMA. Criado pela família Grace, o UFC em suas primeiras edições não tinha limite de tempo. Ou seja, duas pessoas entravam e não tinham hora para sair, como conclusão disso, lutas longas e exaustivas aconteciam para descobrir qual o melhor estilo de artes marciais. Contudo quando o Pay Per View entrou para o UFC foi necessário colocar um limite de tempo para se enquadras nos pacotes vendidos. Embora tenha mudado por completo da ideia inicial da competição, foi também por conta dessa nova estrutura que o evento conseguiu crescer, profissionalizar ainda mais a luta e ser o que é hoje.

Com isso, o corte feito por Dave para diminuir o tempo é, como ele mesmo contou em sua live, um processo em direção a profissionalização do esporte. “Todo mundo fala da profissionalização do esporte. Eles querem que seja mais profissional. Coisas como essa, essas decisões difíceis, são exatamente o que nos ajudam a passar para o próximo nível de profissionalização”, pontuou.

Não atrapalha os atletas com possibilidade de pódio

Outro ponto que foi levantado foi o fato dos cortes acabarem atrapalhando os possíveis atletas que começam mal a competição e depois se recuperam. Ano passado tivemos uma amostra clara disso com Gui Malheiros que começou ficando na 24ª e 36ª colocações nos primeiros workouts, mas com o passar dos dias foi recuperando e conseguiu finalizar o Games 2022 na 10ª colocação. Entretanto, ao contrário dos demais anos, o primeiro corte ocorrerá após dois dias de evento. Dessa forma, se contabilizarmos teremos um total de pelo menos seis provas ocorridas. Então, aqueles que de fato estiverem abaixo dos 30 primeiros, dificilmente conseguirão lutar pelo pódio.

Por isso, o corte será feito para tirar essa “gordura” de atletas que não conseguiriam manter-se na disputa de, por exemplo, Top 10. Sendo assim, aqueles que estiverem em uma situação parecida com a do Gui no ano passado, provavelmente, ainda terão chance de recuperação. Assim sendo, ao contrário do que muitos disseram, os cortes focam em tirar as baterias à mais da competição, daqueles atletas que não irão de maneira alguma subir ao pódio ou conseguir ficar minimamente competitivos com quem está acima na tabela.

Por outro lado, o corte, segundo Dave, poderá ser uma ótima pedida para possibilitar novas provas. “Os cortes nos permitem ser realmente criativos e fazer coisas diferentes com a programação. À medida que reduzimos o campo e os atletas conquistam o direito de avançar, podemos realmente fazer as coisas de maneira diferente”. De fato, provas como PR e outros desafios que exigiriam que fossem feitos de atleta a atleta acabam ficando inviáveis se pensarmos em um universo de 40 competidores, em cada categoria.

Menos visibilidade para os menores

Verdade seja dita, menos tempo dentro do Games acaba dando menos visibilidade aos atletas menores. Normalmente são os marinheiros de primeira viagem ou atletas que são astros em seus continentes, mas que estão aquém quando falamos em nível mundo. Para eles, ter o evento acabando muito mais cedo, pode ser um duro golpe, inclusive para que percam as marcas patrocinadoras, uma vez que, ir até o Games exige um custo alto dos patrocinadores. Vale ressaltar que a ideia do patrocinador é utilizar a imagem do atleta para sua marca e nada tem mais valor agregado no meio do CrossFit do que ter um atleta patrocinado pela marca dentro do CrossFit Games.

Com isso, quanto mais ele aparece, mais visibilidade, se ele acaba sendo cortado rápido, essa visualização acaba caindo bastante e não dando oportunidade de explorar a imagem do atleta. Também temos a questão do atleta conseguir ser visto por mais marcas e possíveis patrocinadores. O corte acaba não sendo tão benéfico para todos. Embora, como dissemos acima, o atleta tem cerca de seis provas antes do primeiro corte, dando assim um tempo interessante para que ele explore o que tem de melhor nas provas. Contudo, as provas ainda não foram apresentadas, mas o certo será que durante os dois primeiros dias não tenhamos uma prova que vislumbre apenas uma vertente. Para que dessa forma fique justo e não tenhamos aquele atleta bom nos movimentos ginásticos, sendo cortado pois as primeiras provas eram basicamente de LPO. Para ser justo nesse formato apresentado por Dave, será necessário um balanceamento nos workouts.

Aliás Dave pontuou a parte dos cortes dizendo que “ir aos Games foi conquistado, não dado. Conquistar o direito de ir foi realmente desafiador, e esses caras dedicaram muito trabalho, tempo e esforço. Você tem que ganhar o seu direito de ficar e competir com os melhores do mundo. Eu acho que isso é totalmente apropriado e totalmente aceitável.”

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