Doce de leite de pré-treino, sim ou não?

Em busca de alimentos mais práticos e corriqueiros do nosso dia a dia para usar como recurso ergogênico, objetivando melhorar na performance dos nossos treinos, surgiu o doce de leite como o queridinho do momento. Afinal, quem diria que um doce simples, bastante usado na nossa culinária para rechear bolo e que nos remete a nossa infância poderia nos ajudar na performance esportiva. Além disso, muito mais palatável se comparado aos pré-treinos industrializados. Com uma alta concentração de carboidratos simples, um pouco de proteína e gordura, fácil de consumir e portar, não vejo um pré-treino melhor. Mas será que ele realmente funciona e é para todo mundo?

Se analisarmos sua composição nutricional, considerando seu alto teor de açúcar e ser de  rápida absorção, seu uso elevará mais rapidamente os níveis de glicose no sangue após a ingestão. Dessa maneira, sendo de grande benefício para atividades físicas intensas e de curta duração, uma fonte quase que instantânea de energia. Com certeza se encaixa perfeitamente como pré-treino, principalmente se houver uma janela de tempo pequena para o consumo de algum alimento antes do treino. Em contrapartida, existem poucos e raros estudos voltados a esse alimento no que se diz respeito à performance.

Estudo de caso do doce de leite

Um artigo publicado na RNE (revista brasileira de nutrição esportiva)1, mostrou participantes realizaram um treino clássico da Crossfit®️. Para análise foi feito o 21-15-9, com deadlifts e burpee over the bar por um tempo limite de cinco minutos. Esse treino foi realizado três vezes, com um intervalo de pelo menos cinco dias de um treinamento para o outro.

Todos os praticantes consumiram o doce de leite como pré-treino. Com dosagem de 15g e 30g em uma semana em que não havia ingestão do doce. Realizado de forma randomizada, sem regra para as semanas.

Resultou em um aumento nas repetições por minutos de 9,36% quando comparado 0g para 15g do uso do doce de leite e de 12,42% comparado de 0g para 30g do doce de leite. Ou seja, o doce de leite como pré-treino pode promover melhora na performance. Mas, mesmo assim, no artigo cita que por conta das limitações, indica-se mais estudos para comprovação deste resultado.

Quando o doce de leite não é recomendado

No que diz respeito a atividades físicas de longa duração, o doce de leite pode ser bastante prejudicial. Por aumentar rapidamente as taxas de glicose no sangue, gerando um pico de insulina, ocasionando um efeito reverso, onde há uma queda brusca nos níveis de glicose levando à fadiga e à diminuição da performance.

Como é um alimento de baixo valor nutritivo, rico em açúcar e ter em sua composição gordura saturada, pode ser prejudicial a longo prazo. Podendo contribuir para o aumento de peso. Portanto, risco de doenças cardiovasculares. Além do açúcar ter características pró-inflamatórias. O doce de leite é extremamente contra-indicado a pessoas com resistência insulínica, níveis alterados de colesterol, diabetes, sobrepeso, obesidade, intolerantes a lactose e outras enfermidades que ele possa prejudicar ou potencializar a doença.

Use da maneira certa

Levando em consideração ao exposto, podemos considerar que o doce de leite pode se encaixar ao plano alimentar. Seja ele como um pré-treino ou simplesmente um complemento a sua alimentação, desde que seja consumido de maneira moderada e estratégica, respeitando os objetivos nutricionais. Se for consumir, opte pelos minimamente processados ou caseiros que não contenham nenhum aditivo em sua composição ou complemento, como por exemplo, goiabada, chocolate etc.

Como pré-treino, o ideal é consumir pelo menos 30 minutos antes. Se for adicionado a qualquer outra preparação, considere um tempo maior para digestão. Tudo vai depender da quantidade e da individualidade da pessoa que está ingerindo. Por isso, o ideal é sempre consultar um nutricionista para ter orientações personalizadas de acordo com seu objetivo e sua saúde.

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1 . SANDOVAL, Giovanni Sandoval et al. A Interferência do doce de leite como pré-treino na performance dos praticantes de Crossfit. Revista Brasileira de Nutriçao Esportiva, v. 17, n. 102, p. 43-50, 2023.

Pablo Ribeiro

Formado em Nutrição pela Universidade Veiga de Almeida.

Especialização em nutrição clínica esportiva.

Atua auxiliando atletas e praticantes de esportes individuais e coletivos de alto rendimento.

Praticante de CrossFit há mais de seis anos

Além do futebol americano, jiu-jitsu, natação, kickboxing, futebol e algumas modalidades do paradesporto.

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