Artigo: Rx no scale, tem solução?

Se todo mundo é contra o RX no Scale, como ainda existe Rx no Scale? Essa foi a indagação que surgiu quando me deparei com o resultado das postagens feitas no perfil do Instagram da HORA DO BURPEE sobre esse tema. Aliás, basta um meme ou uma dica que paute essa questão, para uma verdadeira enxurrada de mensagens acontecerem. Todas elas defendendo que as pessoas optem sempre por participar dos eventos em suas reais categorias e não descendo o nível atrás de um pódio .

Essa sobriedade sobre o assunto é muito bom para a modalidade. Então a primeira pergunta desse artigo volta a tona: “se todo mundo é contrao o RX no Scale, como ainda existe RX no Scale?”. Contudo, isso traz uma questão, de quem de fato é a culpa para chuva de Rx nas categorias mais baixas? Há quem coloque essa culpa na índole dos atletas, outros no coach e até tem quem diga que a real culpa venha dos eventos que não estariam fiscalizando os competidores. Porém, a verdade é que a culpa é uma concessão de todos e ao mesmo tempo não é.

Afinal, como culpar o praticante de ganhar algo da maneira mais fácil e subir no tão sonhado pódio? Como então culpar o coach, que pode perder o aluno caso resolva proibir ele de por livre e espontânea vontade, se inscrever em uma competição? E como culpar o evento de não pesquisar a vida dos mais de 200 atletas, se for um evento pequeno, para saber se eles estão se inscrevendo na categoria certa ou não? Ao mesmo tempo que as variantes são possíveis, em diversos momentos elas se tornam impossíveis. Mas talvez a grande resposta nisso seja a necessidade de uma reformulação nos três pontos: praticante, coach e evento.

Os praticantes

Na parte do praticante entender o real motivo de se inscrever na competição pode ser a saída para esse problema. O pódio não deve ser a meta, mais uma consequência. Ainda mais se estamos falando de categorias amadoras e não do alto rendimento. Entender que a competição tem mais haver com se superar ao invés de ir melhor do que todo mundo, pode ser um ponto forte para que as pessoas façam a competição em suas categorias.

Outro ponto importante é que uma competição é feita para você dar o seu melhor durante um workout que possui as vertentes que você consegue fazer. Ou seja, a competição é uma extensão do que o praticante já faz dentro do box. Claro, com mais intensidade, mais agilidade ou força, mas é de fato uma extensão do que já faz. É estranho essa inversão de valores, enquanto no box ele pega as cargas RX para o workout of the day, para a competição ele prefere se rebaixar e pegar o peso mais leve do que pegaria no seu ambiente de treino. Por isso, o entendimento dos reais motivos pelos quais o praticante deve se inscrever em uma competição precisa estar muito claro em sua cabeça. Uma vez que isso esteja bem formado, descer de categoria se torna de fato, uma ausência de caráter.

Os coaches

Para os coaches cabe sim a obrigação de educar seus alunos. Vale ressaltar aqui que educar dentro da metodologia e dos reais motivos que fizeram e fazem a modalidade existir. Aliás, podemos abranger, nesse caso, seja em um box de CrossFit ou de CrossTraining, o profissional que passou pela especialização da marca, ou até que não passou, precisa saber que um box é um bote salva-vidas. Com isso, as decisões tomadas precisam ser em benefício da comunidade e do ser humano. Ter um aluno subindo ao pódio para ostentar um troféu no box é algo muito pequeno se compararmos um aluno se superando em uma prova ou fazendo algo que ele achava impossível fazer um dia.

Para elucidar isso, basta observamos a imagem que consagrou o Nobull CrossFit Games 2022. Muito longe do primeiro colado, a foto da última atleta a chegar ao Capitólio da Cidade na prova que leva o nome do local foi muito mais aplaudida e exaltada, do que a primeira colocada. As pessoas terem tomado à frente em ajudar a atleta a finalizar a prova, foi de fato um dos, senão o momento, mais CrossFit possível. Passar exatamente esse sentido, essa ideologia de o que vale é a superação do ser humano e não o pódio, é sem dúvida alguma a melhor saída para trazer o aluno para a realidade da metodologia. Logo então, fazer ele entender que melhor do que subir no pódio scale, é se superar no RX.

Os eventos

Para a parte dos eventos, pequenos ajustes podem ser feitos para que essa questão fique mais clara e fácil de ser resolvida. Atos como parar de pagar as categorias mais baixas vencedoras, pode ser uma maneira de fazer com que os competidores mais avançados deixem de baixar de categoria. Afinal, a sede de alguns de subir no pódio é justamente de ganhar o dinheiro. Aliás, independente se a quantia é exorbitante ou se é simplesmente o valor da inscrição.

Dessa maneira, tirando os valores das categorias mais baixas, a competição pode repassar a quantia economizada para as categorias acima, deixando-as mais sedutoras para que os atletas façam a competição nas categorias maiores. Afinal, quem está nas categorias iniciantes, de verdade, esta ali para se testar e experimentar uma competição e não focada em recuperar o dinheiro gasto para se inscrever.

Outra ação possível de ser feita esta na programação dos workouts. Imagine um teto limite para um RM. Atualmente vemos scales levantando mais de 100kg em uma prova de RM. Um peso normalmente visto em provas de um atleta RX, ou seja, “algo de errado não está certo”. Com isso, criar um teto limite para esse peso pode ser uma saída de “igualar o jogo”.

O mesmo acontece na questão do Padrão de Movimento. Ajustar e exigir isso fará com que o praticante avançado que consegue deixar o padrão de um bom movimento de lado sem se lesionar, precise cumprir as etapas certas para ter seu movimento válido. Além de igualar o jogo, esse tipo de atitude fará com que o praticante de nível mais alto, pense duas vezes na hora de se inscrever na categoria inferior a dele.

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