O medo de se expor é um grande inimigo
O TCB4ALL está chegando e, como sempre, vejo a mesma situação se repetindo todos os anos: atletas que treinaram o ano inteiro, que evoluíram tecnicamente, que já têm força e condicionamento suficientes, mas… não se inscrevem. O motivo é quase sempre o mesmo: medo de não performar bem. Medo de não conseguir executar todos os movimentos, medo de errar, medo do julgamento.
É curioso ver como esse medo, disfarçado de “não estou pronto ainda”, faz tanta gente adiar o próprio crescimento. Porque, na prática, você nunca vai se sentir totalmente pronto, e é justamente se expondo que o aprendizado acontece. Muitos atletas deixam de participar porque ainda não dominam todos os movimentos, especialmente os ginásticos. Mas o TCB4ALL existe exatamente pra isso: pra desafiar, pra mostrar o que precisa ser treinado, pra revelar onde estão os gargalos. Enquanto você evita se expor, outros estão lá, errando, aprendendo, evoluindo.
E o mais interessante é que essa fase classificatória é, literalmente, “for all” (pra todos). É ela que vai determinar o nível de cada atleta, e não o contrário. Quando você diz “isso não é pra mim”, antes mesmo de tentar, você não está sendo realista, está sendo dominado pelo medo.
Quantas vezes você já viu alguém se surpreender positivamente quando finalmente se colocou à prova? A própria história do CrossFit está cheia de exemplos de atletas que começaram tímidos em competições locais, erraram, foram mal em provas… e, ainda assim, voltaram melhores. Pega o exemplo da Tia-Clair Toomey, que foi vice-campeã duas vezes antes de ganhar seu primeiro título mundial. Imagina se ela tivesse desistido porque “ainda não estava pronta”? A diferença é que ela escolheu se expor, mesmo sabendo que poderia falhar.
Do ponto de vista da neurociência, vencer o medo faz total sentido
O cérebro evita ameaças e busca segurança, e ele enxerga a exposição pública como um risco real. Quando você entra em uma situação de avaliação, o sistema límbico dispara o alerta: o coração acelera, os músculos tensionam e o medo aparece.
Mas é justamente nesse desconforto que o aprendizado acontece de forma mais profunda. Quando você desafia o cérebro, ele ativa o córtex pré-frontal — a área que controla adaptação, resiliência e criatividade. Em outras palavras: quanto mais você se expõe, mais você cresce.
É nesse ponto que o treino mental faz diferença. A coragem de se expor não surge do nada; você a constrói. Assim como treina força, técnica e condicionamento, também precisa treinar a habilidade de agir mesmo com medo. O atleta que pratica atenção, presença, autoconsciência e regulação emocional reconhece quando o medo fala mais alto, respira dentro do desconforto e escolhe agir apesar dele. O treino mental não elimina o medo, mas ensina você a não deixar que ele te controle. Quando você domina essa habilidade, competir deixa de ser uma ameaça e se transforma em um laboratório de evolução.
Participar do TCB4ALL não significa provar que você é o melhor. Significa provar pra si mesmo que tem coragem de se colocar à prova. Só quando você se permite ser visto, errar e tentar de novo é que o progresso deixa de ser ideia e vira experiência real. A maturidade mental de um atleta aparece na disposição de se expor, não na busca por segurança. Quem só compete quando se sente pronto nunca descobre o quanto realmente é capaz.
Marcella Alonso
Marcella Alonso é profissional de Educação Física pela Estácio de Sá, mentora de performance mental, personal trainer e pós-graduanda em Neurociência Aplicada à Performance pela PUC Paraná.
É cofundadora da MoreReps Training, uma das principais planilhas de treinamento de CrossFit do Brasil.
No cenário competitivo, já disputou 6 vezes as semifinais do CrossFit Games (nas categorias individual e times) e 6 vezes o TCB, conquistando pódio em 3 anos (times 2018 e 2024; individual 2021). Representou o Brasil no Mundial de Fitness Funcional da IF3, na Suécia, em 2019, além de diversas outras competições nacionais.
