Fernanda Linhares: ” vencerei quantas vezes for preciso”

Chegou o momento de darmos um tempo rápido da corrida do Open 24 para falar de outro assunto: o CrossFit de Verdade. Afinal de contas, como disse o criador da metodologia, existe a mesa dos adultos do CrossFit e exatamente dela que iremos falar hoje. Imagine o seguinte caso, você leitor ou leitora, amante não só da metodologia do CrossFit, mas de tudo que o cerca. Você está em uma de suas melhores fases, tanto em performance como em corpo. Não tem uma competição que você não vá para se desafiar, e claro, o pódio é um dos lugares onde você passa com frequência.

Nesse momento, no seu auge, você decide viajar e de repente vê tudo isso desabar. Em questão de segundos a sua vida muda completamente e o movimento mais RX que você precisa aprender é voltar a andar. Desesperador não acha? Foi exatamente o que aconteceu com a nossa personagem de hoje. Fernanda Linhares sempre foi ativa, uma personal trainer que não parava um só minuto. A mineira de Itaúna se apaixonou pela metodologia em 2014, ainda nos primórdios do CrossFit no país. Aliás, isso fez com que ela abrisse um box em sua cidade o Estação CT.

Aliás, como toda boa coach, ela não só dava as aulas como se dedicava em aprender e a treinar cada vez mais a metodologia. “Eu era personal, coach e atleta de CrossFit, treinava de três a quatro horas por dia, às vezes em várias sessões durante um treino. Participava de vários campeonatos, com isso vivia na correria. A atividade física sempre foi minha válvula de escape, por muitas vezes acabei deixando minha família de lado”, relembra Fernanda.

Pensando nessa questão colocada por ela, para poder fazer a sua vez como esposa e mãe, Fernanda fez uma viagem para a cidade de Natal, no Rio Grande Norte em janeiro do ano passado. Entre os passeios chegou o dia de conhecer a deslumbrante cidade de Pipa. Porém, o que era parecer um passeio tranquilo foi o primeiro alerta de que um verdadeiro problema estava por vir.

O Dia D

Ainda na cidade de Pipa, Fernanda passou a sentir fortes dores de cabeça: “havia ficado no sol o dia todo, à noite minha cabeça doía muito. Eu pensava que era por conta do sol e da cerveja, jantamos e fomos para o hotel. Quando acordei no dia seguinte, comentei com meu marido que a dor de cabeça tinha piorado, foi então que eu perdi a coordenação e as minhas pernas foram caindo, já estava com a boca torta e falando embolado. Meu marido pediu socorro e fui levada para UPA de Pipa, de lá me transferiram para Natal por meio de uma ambulância”. Fernanda estava tendo o primeiro Acidente Vascular Cerebral (AVC).

Contudo, um erro dos profissionais de saúde local iria agravar ainda mais o problema. “Assim que chegamos em Natal, meu marido conta que me levaram para o hospital errado, era um hospital público. Por esse motivo, fiquei a tarde toda na enfermaria, eu estava apagada, às 21h me levaram para o hospital particular e assim que cheguei, me transferiram direto para o CTI. Meu estado era grave, tive uma lesão extensa, fiquei muitas horas sem atendimento. Passei vinte e quatro dias no hospital e uma semana no CTI. Os médicos estavam investigando o que havia causado o AVC e foi então que descobrimos que tenho FOP (fibrodisplasia ossificante progressiva), eu nunca soube que tinha essa patologia”, explica Fernanda.

O resultado de todo esse processo fez com que nossa personagem voltasse a estaca zero da vida no auge de seus 40 anos. Dessa maneira, ela precisou reaprender a viver e fazer ações simples como engolir líquidos e alimentos. Além disso, voltou a usar fraldas e com parte do corpo debilitada, sua locomoção passou a ser feita apenas por cadeira de rodas: “era complicado estar naquela situação”.

O Recomeço

O capítulo de recomeço de Fernanda em busca de sua vida tem um ponto interessante, o encontro com seu anjo da guarda. O fisioterapeuta e fisiologista Vinicius Camargos possui o espectro autista e mesmo com suas dificuldades, conseguiu ser um verdadeiro bálsamo na vida de Fernanda. “Vinicius é autista e uma das pessoas mais inteligentes que já conheci. Em uma semana de carnaval, ele foi até minha casa e passou o feriado inteiro lá. Enquanto muitas pessoas aproveitavam para descansar e se divertir, ele estava me ajudando, eram de três a seis horas por dia de fisioterapia”.

Mesmo acostumada a passar horas de treinamento pesado dentro do CrossFit, as longas sessões eram de fato cansativas para nossa personagem. Porém, ela conta que seu corpo forte, fruto do treinamento dentro da metodologia foram cruciais para que ela aguentasse o AVC. “Eu ficava exausta, mas a vontade de sair daquela situação me motivava e surgia como combustível em dias difíceis. Treinei intensamente por dez anos e penso que foi o que fez com que eu sobrevivesse ao AVC, os médicos dizem que meu porte físico me salvou”.

Aliás, para Fernanda, até hoje ela está recolhendo os frutos do seu período de treinos intensos dentro do box, alinhado aos trabalhos incansáveis de seu fisioterapeuta. “Minha recuperação foi e está sendo rápida devido aos protocolos criados e incansavelmente aplicados que o Vinicius adaptou e desenvolveu, meu irmão, que a vida me deu”.

Desistir não é uma opção para Fernanda

Uma coisa que fica nítida e clara nas falas de Fernanda ao longo de seu caminho é que desistir não é uma opção. Ao contrário de reclamar, Fernanda faz questão de mostrar o outro lado. “Agradeço a cada dia a Deus, minha família, ao Vinícius Camargos, a todos os profissionais que participaram desde o primeiro dia até este momento, meus amigos, colegas e várias pessoas maravilhosas que nunca imaginaria, que rezaram e desejaram a minha vitória”.

Aliás, embora tenha novas limitações em seu lado esquerdo do corpo, Fernanda faz questão de salientar a importância de acreditar e seguir em frente. “Hoje não sou como era, hoje sou uma guerreira que mesmo que digam ser impossível, eu vou estar lá e fazer todos os dias até ser possível. Tenho fé, tenho vontade, tenho persistência e disposição para enfrentar tudo hoje. Não está sendo fácil, mas tenho certeza que Deus está comigo, me sustentando e me dando forças e coragem para fazer do dia ruim, um dia maravilhoso”.

Para finalizar nossa entrevista, Fernanda faz questão de deixar sua mensagem. “Todos nós temos, seremos e podemos ser melhores que ontem, mas para isso, precisamos ter disposição e garra, para saber que nos dias ruins, você vai ter que bater a mão no peito e dizer, eu vou vencer e com Deus ao meu lado, hoje eu posso dizer, “EU JÁ VENCI E VENCEREI QUANTAS VEZES FOR PRECISO”.

Atualmente, Fernanda usa suas redes socias para mostrar a força de seus exemplos e persistência. São diversos vídeos de antes e depois, onde ela demonstra que mesmo após do seu AVC, o CrossFit continua sendo uma ferramenta de fortalecimento de nossa personagem.

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