Elaine Rocco quer ir ao Wodapalooza
Com apenas dois anos praticando CrossFit, Elaine Rocco já está entre as maiores atletas adaptadas do mundo. Para se ter uma ideia, a brasileira conseguiu beliscar por duas vezes uma vaga no Nobull CrossFit Games, ficando na 7ª colocação duas vezes. Porém, esse ano Elaine conseguiu se classificar para participar do Wodapalooza, um dos principais eventos fora da temporada do Games e almejado por todo atleta de CrossFit. Contudo, ela esbarrou no mesmo problema que todo atleta brasileiro que tenta levar seu nome para fora: os custos com a viagem. Pensando nisso, Elaine resolveu criar uma VAKINHA online e uma rifa, só com produtos de cross, para tentar levantar o máximo de custos para levar o nome dos atletas adaptados brasileiros para o mundo. Conheça quem é Elaine Rocco, a brasileira que ficou em 1º lugar nas classificatórias do Wodapalooza.
Quando você começou no CrossFit?
Lembro até hoje que a minha primeira aula de CrossFit, foi em um aulão de carnaval em 2020. Mas fazia muito tempo que eu queria começar, só não sabia se ia conseguir. Antes mesmo de tentar eu havia colocado obstáculos na minha mente. Mas um belo dia, enfrentei o medo de “será que eu vou conseguir colocar a barra em cima da cabeça sendo deficiente? ”. Fui fazer a aula e foi a melhor coisa que eu fiz, sai de lá matriculada para ir todos os dias.
Elaine, como foi esse processo inicial dentro da modalidade?
Tudo leva tempo, no CrossFit não é diferente. Mas uma coisa que eu levo pra vida é que nada é impossível para quem REALMENTE quer. Tem que ter fome de aprender, superar os limites e ser 1% melhor todos os dias. Como todo iniciante, eu tive que aprender e superar as minhas dificuldades. Lembro que fazia clean com a pegada invertida para conseguir segurar a barra. Mas eu nunca levei isso como “limitação”, eu encarei o fato que eu tinha que fazer daquela forma e fazia. Eu estava fazendo o que eu sempre quis em um lugar com pessoas que buscaram me ajudar. Então sempre soube que estava no caminho certo.
Você teve dificuldade de adaptar os movimentos? Qual deles foi o mais difícil?
Sempre tive alguma dificuldade dentro do Cross, aprendi a lidar com elas e com o passar do tempo fui entendendo o que me ajudava a realizar os movimentos. Barbel Cycling, por exemplo, antes era muito difícil eu conseguir fazer, pois a barra escapava da mão que eu não consigo fechar por conta da deficiência. Hoje já melhorei isso, uso um strap para ajudar a segurar a barra e assim vou seguindo. Contudo, os ginásticos ainda são difíceis para mim, pois fico pendurada na barra com um gancho, o qual nem é feito para isso (risos). Então não posso usar muito o balanço se não corro o risco de cair da barra. Mas confesso que meu pensamento nunca foi do tipo, “nossa isso eu não consigo fazer porque não tenho os dedos da mão”, meu pensamento sempre foi, “COMO eu posso fazer isso mesmo não tendo dedos?”.
Contudo, os ginásticos ainda são difíceis para mim, pois fico pendurada na barra com um gancho, o qual nem é feito para isso (risos). Então não posso usar muito o balanço se não corro o risco de cair da barra. Mas confesso que meu pensamento nunca foi do tipo, “nossa isso eu não consigo fazer porque não tenho os dedos da mão”, meu pensamento sempre foi, “COMO eu posso fazer isso mesmo não tendo dedos?”.
Quando você resolveu se dedicar realmente a ser uma atleta de cross?
Devo relatar que desde que conheci o esporte tive essa sede por ser uma atleta. Então sempre busquei fazer um pouquinho a mais em cada aula. Claro que ter pessoas ao seu redor que também tem essa fome faz total diferença, pois nesse esporte você não caminha sozinho. Quando o CrossFit Games anunciou que teria a categoria adaptativa ano passado, vi que ali morava a minha chance de competir, fazia um ano que eu tinha entrado no CrossFit no meio de uma pandemia. Então participei do meu primeiro Open ficando em 7º mundial e quase chegando em Madison, só o top 5º passou, ali eu tive a certeza que eu iria trabalhar para isso.
Esse ano novamente participei do Open, fiquei em 5º mundial e passei para a semifinal, mesmo sendo online foi uma experiência gigantesca para mim como atleta. Na semi fiquei em 7° e novamente e não consegui estar na arena mais desejada do mundo para competir presencialmente. Eu sempre estive disposta a pagar o preço, a jornada é dura e dói não conseguir me dedicar ao meu propósito o quanto eu quero. Mas eu confio que o trabalho duro compensa e logo poderei viver como atleta.
Como a Elaine vê o cenário dos atletas adaptados no Brasil?
Acredito que falta as pessoas, marcas e empresas nos enxergarem, somos atletas e batalhamos diariamente para ter espaço no esporte. Mas precisamos sobreviver dentro dele e para isso precisamos de patrocinadores. As nossas oportunidades de competir ainda são escassas, no Brasil ainda mais. Por isso, precisamos de pessoas que acreditem na nossa história, para quando chegar uma oportunidade como essa que eu tenho, ter condições de ir e representar uma nação. Penso que estamos abrindo o caminho para que mais atletas com deficiência acreditem no esporte como forma de transformar a vida, e espero que as marcas passem a acreditar ainda mais na nossa categoria adaptativa.
De onde surgiu a ideia de tentar a vaga para o Wodapalooza?
Eu terminei a semifinal do Games e falei pro meu Coach: “esse é o próximo”. O Wodapalooza inseriu a categoria adaptada antes mesmo do CrossFit Games, é um campeonato referência que tem uma coletividade muito grande. Então eu sabia que seria um sonho alto e caro, treinei muito, fiz e refiz as provas e o trabalho duro compensou, fiquei em 1° lugar geral e consegui a minha vaga, sendo a única brasileira da categoria.
De quanto você precisa para ir até o evento?
Eu fiz uma cotação média, mas as passagens e hotéis sempre vão mudando o preço conforme a data da viagem vai chegando. Então os valores são altos e sem ajuda fica muito difícil. Mas eu mantenho a minha fé e acredito que vou conseguir estar lá em janeiro.
- Passagem (ida e volta) = R$ 15.550,00
- Hotel = R$ 7.350,00
- Deslocamento de todos os dias para o local do campeonato = R$ 2.000,00
- Inscrição do Campeonato = R$ 2.355,59 ( $.405,33 USD)
- Alimentação: 2.450,00
Como as pessoas podem te ajudar para isso?
Eu fiz uma VAKINHA, lá as pessoas podem doar quanto puder. QUALQUER valor vai me deixar mais perto de Miami para realizar o meu grande sonho de finalmente estar em uma arena representando o Brasil. Ou se a pessoa preferir pode doar no meu pix: 42999986868. Também estou fazendo uma RIFA com prêmios que ganhei de alguns apoiadores, ela é bem direcionada para o cross e só tem prêmio bom. Assim, com o valor de R$15,00, a pessoa pode comprar direto comigo por direct no meu instagram. Preciso vender muitos cupons ainda.
Falta muito para conseguir a quantia até o momento?
Sim, falta muito ainda. Não consegui nem juntar o valor da inscrição que tive que pagar para não perder a vaga.
Qual a importância de termos a Elaine, uma atleta brasileira adaptada, no evento?
Como falei, estamos abrindo o caminho e a única forma de conseguir isso é competindo, estando dentro de uma arena e dando o nosso melhor. Não é apenas sobre mim, mas sobre uma categoria que está lutando por mais espaço no Brasil e no mundo. É sobre pessoas com deficiência que podem descobrir no esporte uma forma de superação, como um dia eu encontrei.
Voando, vai arrebentar, 1º colocada no Qualifer só o começo 🤟🏻🤟🏻