Entrevista com Pâmela com Pê
Talvez seja difícil reconhecer ele fora das arenas de competição. Afinal de contas, ao contrário dos longos cabelos rosas e a roupa chamativa dentro da arena, os cabelo curtos e pretos podem passar desapercebidos. Aliás, talvez apenas a voz seja igual de Fred e Pâmela com Pê. Aliás, na realidade, tanto Fred como Pâmela, são na verdade personagens criados pelo goiano João Soares. Ambos feitos para ajudar e ensinar pessoas. Enquanto Fred utiliza da física para dar aulas, Pâmela com Pê utiliza toda a espontaneidade de João dentro das arenas.
Criado com o intuito de trazer alegria, uma visão bem humorada do mundo do CrossFit. Além de trazer um momento importante de representatividade, Pâmela com Pê topou falar com a nossa equipe e contar um pouco sobre quem é João, quem é Fred e quem é Pâmela com Pê, a locutora que vem ganhando espaço nos eventos do país. Confira nossa entrevista:
Quem é a pessoa por baixo da Pamela?
João, de 29 anos e mais conhecido como Fred Físico. Professor de Física, mestre em ciências moleculares, crossfiteiro, ator em formação e pós-graduando em comunicação e marketing. Mas na realidade, o João nada mais é do que um homem criativo “viciado” em trabalhar. Que vive o Fred Físico e que interpreta a Pâmela com Pê.
Como vc conheceu o CrossFit?
O CrossFit veio após dois anos de funcional. Mas a verdade é que a obesidade me levou para o CrossFit. Na época eu fazia o funcional, corrida de rua e tudo que aparecia. Então, encontrei isso tudo dentro de um box de CrossFit, junto com muitas amizades. Assim tudo com que eu faço hoje é explorar minha criatividade. Já vivi o CrossFit de diversas formas e por isso, fiz de tudo dentro de um box, menos Bar Muscle Up (risos).
De onde surgiu a ideia de trabalhar com locução?
A locução foi algo natural que apareceu após eu materializar a Pâmela. Afinal de contas, eu já tinha um perfil para a Pâmela e ele estava crescendo. Após a minha primeira aparição, que as pessoas viram a Pâmela de fato, de corpo e peruca, veio o primeiro convite. Mas aqui em Goiás não tínhamos nomes de fato do pessoal que mora aqui. Temos a Syo (Syomara Bragança) que é um fenômeno nacional, é goiana, mas que vive em São Paulo. Então, quando o pessoal começou a entender a importância de um locutor até em eventos menores e internos a gente começou a pegar bastante trabalho na região. Com isso, hoje muitos não fazem eventos do box sem chamar um locutor.
Como nasceu a Pamela?
Eu já fazia vídeos para o Instagram, assim como muitos eu surgi na pandemia. Porém, sempre que fazia vídeos com uma peruca velha que tinha, o vídeo “bombava”. Então em 2021 eu fechei uma conta porque estava sofrendo uma espécie de “hater”, após eu me assumir como homossexual na internet. Muitas Já sabiam, mas faltava escutar da minha boca. Em 2022 eu encontrei o Gustavo Cunha, que sempre foi um cara muito gentil comigo. Dessa forma, ele me perguntou sobre os meus vídeos e tivemos uma troca de palavras bacana que me fez refletir. Pensei: “Uai, então ele gostava dos meus vídeos?”.
Com isso, tive a ideia de montar a Estrepina antes de abrir o Instagram da Pâmela. Mas a inspiração da Pâmela com Pê veio de uma aluna que era exatamente como alguns arquétipos que coloquei na Pâmela. Grandona, sem medo, pop, chegava chegando na escola 14h da tarde toda glamurosa. Sempre que a chamava de Pâmela com Pê na hora da chamada eu recebia uma frase debochada em troca. Então assim nasceu a Pâmela, inspirada em mulheres fortes, dentre várias podendo citar alguns nomes como: Syomara Bragança e Naty Graciano.
Por que vc de fato criou a Pamela e não usou o Fred ou o João para ser o locutor?
Porque a Pâmela é o manifesto da minha arte e foi exatamente com ela que eu consegui trazer tudo que eu sei para dentro do CrossFit. Sendo Scale, o meu maior bônus foi trazer todo pop, glamour e tudo que a Pâmela representa para dentro da nossa modalidade. Com certeza é a maior adaptação que já fiz (risos). O Fred também é engraçado, crossfiteiro, ator, criativo, mas ele é professor e foi construído para dar aula. Então ele serve para fazer magia e palhaçada ensinando as leis de Newton. Enquanto a Pâmela é o meu diferencial, é o que torna o nosso trabalho único dentro de qualquer evento.
Mas na verdade, ao finalizar meu trabalho no Monstar Games 2024 veio essa pergunta de algumas pessoas. Mas o que elas não entendem é que o fato da Pâmela ser uma personagem interpretada por um homem gay não faz o trabalho que entregamos ser menos técnico ou menos profissional. Pelo contrário, faz o nosso trabalho ser extremamente autêntico. Meus contratantes sabem da minha seriedade e do valor que tem o que eu entrego, pois a Pâmela foi construída para entregar 300%.
Como tem sido a aceitação do público?
A aceitação do público é melhor do que eu imaginava. Lógico que eu me deparo com olhares, comentários e vários “nãos” ligados ao fato da Pâmela com Pê ser interpretada por um homem. Eu sei quem são e sei quando agem com preconceito. Mas são poucos perto das pessoas que amam e admiram meu trabalho. Eu aprendi a lidar com isso, montei uma rede de apoio e eu me apego fortemente as pessoas que amo e que de fato importam para mim. Recebo doses diárias de carinho das minhas humilhadas e meus humilhados e isso tem que fazer mais sentido sempre. Então eu digo e repito: a Pâmela foi construída inspirada em mulheres fortes e quando eu vejo quem me segue, quem troca carinho comigo me faz ter a certeza de que estou no caminho certo.
Qual a importância de ter a representatividade LGBTQIA+ dentro do nosso esporte com a Pamela?
O CrossFit dentro da variedade de modalidades esportivas que temos é muito inclusiva em todos os aspectos. Vejo a comunidade bem representada e ocupando vários espaços dentro de todos os âmbitos. Temos muitas figuras importantes no cenário nacional que representam a comunidade. Desde grandes atletas a comunicadores e influencers. Eu me assumi “pra mim” após um campeonato de CrossFit.
Estava na categoria iniciante, competindo vestido de Mário e Luiggi com minha dupla e quando eu voltei eu parei e pensei. “Cara se uma pessoa que já pesou 132 kg é capaz de vestir uma camisa de atleta e fazer aquilo tudo. Por que eu não posso ser quem eu sou?”. Aliás, acredite, para quem foi a primeira pessoa que eu mandei mensagem? Para minha amiga que eu conheci no CrossFit, a qual me ajudou a passar por todo processo de emagrecimento, mesmo ela não precisando. Já recebi muitas mensagens lindas de pessoas que estão passando pelo processo de se aceitar e isso não tem preço.
Quais grandes eventos vc já conseguiu fazer locução?
Primeira arena grande que eu pisei foi no Wodland 2023, estava competindo e narrei três baterias a convite da minha “Mãedrinha” Syomara Bragança. Fiz o Cerrado Interbox 2023 que é o maior evento de times da América Latina (curiosidade: foi o evento que em que ocorreu a primeira aparição de Pâmela de forma física “outubro/2022”). Recentemente fiz o Monstar Games edição de 10 anos que é o maior campeonato da América Latina.
Para você, qual a importância do narrador?
O Narrador ele é a voz do campeonato. Tudo passa por ele, desde a abertura até o fechamento do pódio no final de tudo. Ele que fornece tempo, os comunicados, a voz dos patrocinadores, que guia a arena e que traz para o público uma vivência especial, ali no “tempo real”. Sem narrador/locutor não existe campeonato de crossfit.
Ser narrador vai além de alegrar a plateia? Por quê?
Muito mais, existem vários tipos de locução e elas variam de acordo com a prova, a bateria e a categoria. O atleta iniciante por exemplo é tudo muito novo, é um nervosismo sem igual. A gente precisa trazer para ele emoção, energia, animação para que ele queira voltar. O Scale é o pop do campeonato, o que dança, combina lookinho e vai para arrasar, mas gosta de manter o alto astral. O Amador é o limbo, que fica entre as categorias. RX e Elite vale dinheiro, o pessoal já entra com estratégia e a nossa locução precisa ser técnica, atenta e cuidadosa. O tempo precisa ser avisado com mais frequência para que o atleta consiga executar sua estratégia. O que de fato precisamos levar em consideração é que estar na arena é construir memórias e nós precisamos fazer isso servindo ao público e aos atletas da forma que eles querem e de acordo com cada momento, respeitando as nossas particularidades.
Qual ou quais objetivos vc quer alcançar com a Pamela dentro das narrações? Pretende levar a Pamela para outras vertentes além do Cross?
Dentro das narrações eu quero que o público que me acompanha viva várias experiências comigo. Quero levar a Pâmela para campeonatos fora de Goiás para construir memórias e história. Tenho metas financeiras com a Pâmela também e isso casa com meus trabalhos como marketeiro e publicitário. Eu sei que tem competições que a Pâmela não vai fazer e lugares que ela não chega e isso foi pensado na hora de construir ela.
A Pâmela atende outros públicos, pois falou de Universo Feminino, falamos de Pâmela com Pê. Já fiz alguns trabalhos fora do crossfit como inauguração de salão de beleza, evento de empreendedoras e recebo alguns convites para atuar fora do meu nicho. Hoje a entrega é 100% para o Crossfit por demanda de tempo e metas particulares, mas sempre que consigo vou abrindo meu leque pois quero atingir outras vertentes esportivas. Dentro do teatro eu sei o que consigo fazer com a Pâmela, mas eu quero retribuir o que o esporte fez na minha vida e por isso já rascunhamos um monólogo sobre crossfit com vida saudável.
Para finalizar, deixe um recado para os nossos leitores e seus fãs.
Seu eu contasse para alguém na infância que o meu amor seria ser quem eu sou, ninguém acreditaria. Por isso, nunca deixa de ser quem você é e nunca deixe de acreditar nas pessoas porque viver sem tarja, sem neura e sem preconceitos sempre vai ser o maior wod da sua vida.
Pamela é sensacional! Acompanho o trabalho dela, nos motiva, é engraçada e autêntico!!! Fred é um amor de pessoa com todo seu público
Pâm é necessária ♥️