Tati Alves: “com certeza eu exagerei sim”
Uma grande polêmica foi instaurada no CrossFit Brasileiro. Na primeira edição do evento Sun Challenge, ocorrido na cidade de Niterói nos dias 24 e 25 de agosto, um grupo sentiu-se incomodado pelas brincadeiras da locutora Tati Alves. A narradora teria feito brincadeiras, segundo os acusadores, de cunho homofóbico. O fato acabou ganhando força e acabou sendo noticiado dentro e fora da comunidade do CrossFit.
Para entender melhor o que ocorreu de fato, convidamos a head coach da Tupã CrossFit para dar a sua versão dos fatos ocorridos. Em uma conversa franca e direta, Tati falou, pela primeira vez com mídia e deu seu parecer ao caso. Acompanhe:
Quais os motivos que levaram a denúncia?
Categoricamente, duas blogueiras de Niterói e um perfil “fake”, sem nome, sem foto, sem postagem, literalmente de “Haters”, comentaram nos storys do evento e de um dos outros narradores durante uma Live. Portanto, somente duas pessoas do nosso meio que estiveram presentes no evento publicaram em seus storys.
Sendo que, uma me conhece pessoalmente desde 2014. Então eu realmente não entendi a intenção, já que a mesma poderia ter questionado diretamente a mim. Inclusive, eu estou finalizando uma parceria exclusiva com a empresa de suplementos do marido dela, ou seja, não tenho e nem nunca tive problemas pessoais com esta. A outra menina, disse que nem esteve no evento desde o início, que, ela ficou sabendo por terceiros, que eu havia chamado os gays de ‘viados’.
Você ou a organização do Sun Challenge foram procurados no dia do evento para que a maneira que estava falando fosse parada?
Sim. No domingo por volta das 13h o produtor veio até a mim, para me mostrar um comentário, desse perfil “fake” na live do campeonato. Mais ou menos com essas palavras: “manda essa locutora parar de ficar falando sobre ‘viados’”. Neste exato momento, eu cortei todo tipo de brincadeiras e comentários sobre tal assunto na arena. Assim a partir daí, eu segui no evento sem falar absolutamente nada de Héteros ou Gays. Este foi o único comentário na live do evento.
Por que você faz esse tipo de brincadeira na sua locução? Nunca teve receio que algo como esse acontecesse?
Eu tenho muitos alunos e amigos Gays, frequento todo final de semana, boates e bares Gays, LGBT. Por isso, fico muito à vontade, sou muito íntima das gírias LGBT, eles me chamam de “Travesti da Lapa” e eu os chamo de “Vinhadus” ou “Pocs lindas”. O CrossFit tem fama de ser um esporte para os Brabos e ultimamente graças a Deus, muitos gays e lésbicas estão mudando essa realidade.
Meu Box de Niterói tem muitos gays e nesse evento em especial eles foram em grande número, graças a Deus! (risos) Nunca tive receio, porque não existe a possibilidade de eu ser homofóbica. É uma coisa totalmente contraditória com o meu estilo de vida, apesar de não ser gay.
Como foi a repercussão nas suas redes após as alegações virem a público?
Então, foi horrível! Todos os meus alunos e amigos preocupados comigo, com medo de eu sofrer alguma retaliação. Afinal homofobia é crime, eu fui acusada de cometer um crime, imagine, contra os meus próprios amigos?! Como assim?! Não tive problemas com nenhum comentário sobre a minha atuação como locutora em meu perfil.
Só tive mesmo muito apoio de todos os alunos e amigos, que me conhecem e que também ficaram indignados com tal fato. Mas eu não tive tempo nem de reagir, porque na segunda as 5h estava com viagem marcada para o Chile de férias com minha filha de 15 anos.
Qual foi a sua reação em relação a acusação?
Fiquei o tempo todo tentando por telefone buscar uma solução para o problema. Entrei em contato com meu advogado, para que o mesmo pudesse me auxiliar e me ajudar numa forma de tentar esclarecer todo o mal entendido. Conversei com o dono do evento e tive total apoio dele, já que ele sabe da minha índole, da minha história e que entendeu que tudo não passava de um erro de comunicação.
Olhando agora, após o acontecido, você acredita que tenha exagerado nas brincadeiras?
Com certeza eu exagerei sim. Pois se eu não tivesse exagerado, não teria causado esse tipo de mal entendido e gerado algum tipo de constrangimento para os espectadores. Por eu estar muito feliz em ver meus amigos pessoais gays transbordando de alegria na arena, eu pisei no acelerador e deu no que deu.
Quem não frequenta o meio LGBT não é obrigado a conhecer as gírias e as brincadeiras. Foi o que aconteceu, gerou todo esse transtorno. Na cabeça do hétero, chamar o gay de ‘viado’ é ofensa e crime. Porém, eu como “Travesti da Lapa” como eles me chamam, tenho essa liberdade mútua.
O fato ocorrido vai mudar a maneira como você se porta nos eventos?
Absolutamente sim. Não tem como não mudar depois de todo esse ocorrido. O locutor tem o papel de entreter sim. Porém, esse é um assunto que ainda causa muita discussão em nossa sociedade. Na minha cabeça, eu tinha uma outra perspectiva sobre isso. Mas hoje eu já vi que não. Mas Graças a Deus eu faço locução porque gosto de interagir com a nossa comunidade.
Sou Head Coach de cinco boxes desta modalidade, sendo apenas uma afiliada a CrossFit. Tenho 20 anos como Educadora Física Especialista. Fui atleta e estou quase me aposentando. Gosto de fazer a locuções pelo simples fato de amar o esporte, unir as pessoas e os Boxes. Gosto de conhecer e exaltar cada Head Coach, cada atleta dentro da arena desses eventos. Além de cada profissional envolvido. Por isso sou amiga dos fotógrafos, DJs , árbitros , Staffs , patrocinadores e produtores.
Você teria algum recado para dar para quem possa ter se sentido lesado, de alguma forma, pelas brincadeiras?
Tenho sim. Primeiro pedir desculpas para toda a nossa comunidade que viu manchada o nome daquilo que nós amamos fazer e fazemos todos os dias com muito amor. Por minha causa. Eu preferiria ver o MEU NOME CITADO e do evento, do que ver o nome “num campeonato de Crossfit” ou da palavra “narradores “ . Eu não sou homofóbica mesmo, então não me causaria nada, se duvidar eu ia ganhar até mais seguidores. Porque isso afetou muita gente.
Afetou o evento em si que foi impecável, maravilhoso e que não mereceria estar aparecendo nas mídias dessa forma. Com certeza os patrocinadores, que são muito importantes para um evento dessa magnitude acontecer, que provavelmente não ficaram satisfeitos. Mais ainda, aos meus dois colegas locutores que estavam ao meu lado, e que foram impecáveis em suas atuações.
Pedir desculpas para as pessoas que se sentiram constrangidas ou feridas de alguma forma. Pedir cautela aos influenciadores digitais ao publicarem notícias sem ao menos averiguar a veracidade dos fatos. Principalmente quando for fácil chegar até a pessoa envolvida. Isso é muito sério. Vocês podem acabar com a vida de uma pessoa ou gerar problemas imensos aos familiares envolvidos, porque todos nós temos família.
Mas eu queria também agradecer. A todos os meus amigos, alunos, Head Coaches do Rio de Janeiro, que praticamente quase todos, foram solidários e me mandaram mensagens me fortalecendo. Pois sabem da minha História e crescemos juntos, a verdade é essa.
Mas principalmente a minha família Tupã. Meu Porto Seguro que conhecem bem a Head Coach que eles têm e que encheram o meu telefone com mêmes, fizeram buling e estão fazendo até agora e que só faltaram me buscar no Chile para me proteger.
“Se mexer com um vai mexer com a Tropa toda!” Esse é o nosso Elo.
Ao Guilherme Cosenza da HORA DO BURPEE, que me deu a oportunidade de poder me defender e esclarecer tudo ! Sem palavras pra você Guilherme!
Nota de Esclarecimento
A equipe da HORA DO BURPEE gostaria de afirmar que abomina qualquer maneira de preconceito, seja de qual for a sua natureza. Dessa maneira, optamos por dar espaço para a locutora Tati Alves, não com o intuito de fazer com que o nossos leitores sejam induzidos a achar algo, mas sim, que eles possam, agora sabendo as duas versões, a lançada na mídia e a versão da locutora, enfim tirar suas próprias conclusões sobre o ocorrido.