Noah Olsen fala pela 1ª vez após a morte de Lazar Dukic
O CrossFit Games 2024 chegou ao fim, mas as suas repercussões só crescem pelo jeito. Após os pedidos da PFAA, as declarações de diversos atletas, chegou a vez do líder da equipe Peak 360º, Noah Olsen expressar os seus sentimentos após a morte de Lazar Dukic e as ações tomadas pela CrossFit. Em seu canal no YouTube Noah afirmou: “foi o o CrossFit Games mais difícil que participei”. Porém, não pela competição, mas sim pela carga emocional colocada para os atletas. Aliás, carga que foi sentida até pelo público em todos os lugares do mundo. Noah publicou o vídeo com a intenção de dar o seu parecer e mostrar para as pessoas o que de fato aconteceu naquele momento.
“Quero dar meu parecer do caso como atleta. Posso não falar por todos, mas posso dar a perspectiva de um atleta que estava lá”. começa a contar o americano. Noah estava estreando com seu time no CrossFit Games, primeira vez dele nessa categoria, até então só havia participado do individual, o que fazia de Lazar um colega de competição. Noah começou falando que conhecia Lazar desde 2020 e pode conhecer também seu irmão, Luka Dukic em 2021 no CrossFit Games.
Porém, Noah mostrou que Lazar era muito mais que um competidor e que havia se tornando um amigo real. “Imediatamente eu soube que ele era alguém que eu me conectei e poderia vê-lo como um amigo. Então, quanto mais interagíamos , mais eu sabia que realmente gostava dele e simplesmente gostava da presença dele”, relembra. Noah falou que já havia falado para seus amigos que Lazar era seu competidor favorito da categoria. “Ele era incrivelmente gentil, cheio de alegria e brincadeiras”.
Última vez juntos e a desinformação
O americano ainda fez questão de relembrar a última vez que esteve com Lazar antes do Games. “Estivemos na Espanha, no Madrid CrossFit Championship. Ele ganhou e eu estava competindo com meu time. Nos divertimos muito e vou sempre lembrar desses momentos com ele”. Após isso, Noah explica como era prova e o calor de Fort Worth. Aliás, o atleta pontua algo que no momento pareceu não ser tão importante, mas olhando para o mesmo momento agora passou a fazer sentido, segundo ele.
“Eu estava na área de aquecimento quando alguns atletas do individual cruzaram a linha de chegada. Quando fui abraçar meu amigo Travis Mayer eu disse: ‘Uau seu corpo está pegando fogo, está muito quente’. Então ele disse que água estava realmente quente, na hora não pensei em nada disso, mas agora sabemos o que isso pode significar”. Noah explicou que após o fim da prova do individual, enquanto todos os times estavam na linha para largada, foi informado, após 10 minutos de atraso que a prova iria atrasar ainda mais.
Porém, sem dar qualquer informação sobre o real motivo do atraso. Esse fato fez nascer um burburinho entre os atletas que apontaram que um atleta não havia cruzado a linha de chegada, mas tarde foi sabido que a pessoa seria Lazar Dukic. “Porém, durante aquele período não sabíamos se Lazar não havia cruzado a chegada ou se teria tido algum problema no seu chip de tempo que não teria contabilizado”. Após isso passaram-se cerca de 45 minutos desde que Lazar deveria ter cruzado a linha de chegada. Neste momento no entanto, Noah explica que estava esperançoso: “eu já participei de eventos onde a pessoa acabava perdendo o chip ou ele não contabilizava por problemas técnicos. Então estava esperançoso para que o caso fosse esse”.
Informação falsa
Uma primeira informação que chegou para Noah era de que haviam de fato encontrado Lazar e que ele estava bem. “Foi um alívio”, relembra, porém a sequência dos fatos deixaram o atleta confuso. “Na volta para área de aquecimento encontrei dois amigos que fazem a minha mídia e eles tinham expressões incrivelmente perturbadas em seus rostos. Olhos vermelhos e cheios de lágrimas, o que me deixou confuso, uma vez que já haviam dito que ele estava bem. Foi então que fiz o sinal de positivo para eles e o Alex balançou a cabeça (negativamente) e disse que não conseguiam encontra-lo”.
A informação trouxe de volta o sentimento ruim e fez com que Noah fosse atrás de sua esposa para um possível conforto nesse momento. Ao chegar nela explicou a situação e contou que voltou para tentar ajudar e obter mais informação sobre o que estava acontecendo, mas encontrou uma das piores cenas para aquele momento. “Luka (Dukic) estava andando pela linha partida. Não sabia o que seria apropriado para aquela situação, não sabia se ele queria ser incomodado, tocado ou confortado, então apenas me aproximei e toquei no ombro dele e não disse nada”. Noah contou que Luka apenas repetia que aquilo não estava acontecendo, que não teria como acontecer uma vez que Lazar era um nadador bom e que ele já havia feito o percurso na semana.
Com o cancelamento da prova para times, os atletas puderam voltar para seus hotéis, porém Noah permaneceu no local até o momento que encontraram o corpo de Lazar. Noah assim como todos os presentes no momento se pós a chorar ao ver que o amigo havia de fato não sobrevivido aquele momento.
A reunião com a CrossFit
Após voltar para casa onde estava hospedado, Noah recebeu o e-mail da CrossFit convocando todos os atletas para uma reunião no Dickies Arena. “Foi o ambiente mais estranho que eu acho que já fiz parte. Quando chegamos havia 200 atletas e coaches sentados na Finish Line. Além de cerca de 20 funcionários da CrossFit esperando que todos entrassem”. Preferindo não citar nomes, Noah explicou que um dos funcionários foi abordar os atletas pedindo desculpas e expressando a sua tristeza pelo ocorrido. Após isso, a mesma pessoa contudo que a equipe conversou com a família de Lazar e que a continuidade do Games aconteceria. Dessa maneira, retornando a competição na manhã seguinte.
Segundo o americano, após as informações, todos os atletas se mantiveram em silêncio. Mas a realidade, segundo Noah, é que todos estavam confusos e em choque. Até que um atleta, que ele também não quis revelar, levantou e questionou a organização. A partir dessa ação, os demais atletas passaram a se expressar, mostrando a indignidade e como estavam abalados com o caso. “Ficou claro que os atletas estavam em um verdadeiro conflito interno. Alguns estavam ali pela primeira vez e queriam ter a oportunidade de ver isso, mesmo à luz do que aconteceu. Outros estavam lá para defender seu título. Mas ficaram tão tristes que estavam pensando em desistir de sua chance de defender o título”. Aliás o que de fato aconteceu após Laura Horvath e Jeff Adler abandonarem a competição.
Noah Olsen queria continuar
Ao contrário de muitos atletas, Noah optou para a continuidade da competição. Porém, de uma forma a homenagear Lazar. “Queria que fosse algo em homenagem a família Dukic. Alguns atletas não queriam mais que fosse uma competição, mas que virasse uma exibição, reunindo-se a comunidade para homenageá-lo”. Noah explica que muitas opções acabaram nascendo durante as discussões, desde o cancelamento do evento até uma sexta-feira voltada para homenagear Lazar. Porém, no final de tudo, nenhuma decisão conseguiu chegar ao consenso, dessa maneira, após dispensar os atletas para ir descansar, a CrossFit anunciou via e-mail que a competição continuaria, após uma homenagem póstuma.
“Voltei para casa com o resto do meu time e tivemos algumas horas de discussões sobre o assunto, colocamos nossos sentimentos e discutimos sobre qual a ação seria certa a se fazer. Mas no momento, nenhuma ação parecia certa naquele momento. Continuar na competição parecia errado, no sentido de que poderia parecer que estaríamos ignorando o fato de que algo tão significativo havia acontecido. Mas não continuar na competição também parecia como se houvessem diferentes razões pelas quais essa não seria a decisão certa a se tomar. Continuar era uma oportunidade para falarmos sobre o Lazar e continuar homenageando-o durante todo o final de semana”.
A equipe de ainda pontuou o fato de deixar a competição faria com que eles perdessem a oportunidade de ganhar o dinheiro da premiação, ao qual a equipe decidiu que seria doado a família de Lazar. “Fisicamente e emocionalmente estávamos uma bagunça e sabíamos que não iriamos conseguir performar da maneira que pretendíamos. Com isso, decidimos comparecer no dia seguinte com nossos equipamentos para competir, mas nossa decisão de continuar ou não, seria baseada em como nos sentiríamos na cerimônia de abertura. Se sentiríamos que o evento seguiria de forma respeitosa e se não sentíssemos isso, nossa equipe estaria fora”.
Homenagem decepcionante
Já após homenagem, Noah pontuou como “desanimadora”, o incomodo foi ainda maior quando após dois minutos de homenagem a Lazar, os atletas foram enviados para a área de aquecimento para se preparar para o primeiro workout dos times. “Quando chegamos na área de aquecimento, parecia que havíamos voltado para as discussões do dia anterior. Os atletas formaram vários grupos de discussão sobre o que faríamos. Em teoria, a decisão já havia sido tomada, mas ainda assim parecia tão errado que ninguém sabia como abordar isso. Para mim ficou muito difícil começar a competição após a homenagem que foi feita daquela maneira. Pareceu desrespeitosa e errada da minha parte”.
Diante disso, Noah ainda tentou intervir com a competição para tentar adiar o começo, pelo menos por um dia para que todos pudessem passar por esse sentimento estranho que sentiam. Porém, as falas da competição para os atletas foi que o “show está acontecendo e entendemos se você não se sente confortável em participar como atleta e tem todo o direito de se retirar. Mas a competição continuará com ou sem você”. A atitude de Noah em relação ao posicionamento da CrossFit fez nascer o que vimos por diversas vezes durante o CrossFit Games 2024, os atletas fazendo um minuto de silêncio durante o início da competição.
“Decidimos continuar e caso a equipe decidisse, iríamos parar. Mas decidimos que enquanto estivéssemos competindo, daríamos o nosso melhor e memória dele que sempre foi um atleta competitivo. Também vimos que quanto mais nos dedicássemos, mais poderíamos homenagear o Lazar. Como aconteceu no primeiro dia, que ganhamos um workout e pudemos falar com a comunidade”. Noah ainda finaliza o vídeo falando do momento pós Games e da necessidade da reconstrução da marca para o futuro do esporte.
