Era a hora certa de Mat Fraser parar?
A notícia abalou a todos, mas parece ser oficial, Mat Fraser está fora do CrossFit Games. O pentacampeão anunciou na tarde de ontem (02) o fim de sua carreira como competidor do nosso esporte. Mas fica aquela dúvida: será que era a hora mesmo de Fraser pendurar os grips e deixar de competir? Afinal, a superioridade de Fraser comparado aos demais competidores é nítida, prova disso, foi a execução do workout Atalanta na edição do Games no ano passado.
Fraser anunciou seu afastamento há um mês do início do Open 2021. Assim, ele usou a sua conta no Instagram para avisar sobre sua aposentadoria: “como tantos outros que se maravilharam em uma academia de CrossFit, eu não esperava encontrar meus melhores amigos, meu parceiro de negócios, minha esposa, lições de vida infinitas e cinco medalhas de ouro. Hoje eu deixo o esporte mais velho, mais sábio, mais condicionado e grato. Estou mergulhando no próximo capítulo da minha vida com a mesma mentalidade HWPO (Hard Work Pays Off)*. De agora em diante, as decisões que eu tomar não serão baseadas apenas em como afetam meu desempenho, mas como afetam minha família, amigos, saúde e felicidade. Estou ansioso para continuar a fazer parte da comunidade CrossFit, só não vou mais fazer isso a partir do piso de competição”.
Aliás, bem antes, Mat Fraser já havia flertado com a possibilidade de finalizar sua carreira após o pentacampeonato dentro do Games. Mas quase ninguém acreditava que esse dia poderia chegar, pelo menos não antes de vermos “um novo projeto de Fraser” invadindo as competições. Vale lembrar que ele conseguiu surpreender o mundo e ultrapassar a marca de Rich Froening, quatro vezes campeão do Games e visto como imbatível.
Mat Fraser, um atleta cansado
É inegável que Mat foi o melhor atleta da geração e não precisa provar mais nada há ninguém. Mas também é fato, que ele é sim um atleta cansado. Exausto da rotina de treinamentos intensos, exaurido de ter que se comprometer 100% ao objetivo de fazer o melhor dentro do Games, o que fez com louvor, e claro, ter que abrir mão de momentos importantes com a família e amigos.
No site Morning Chalk Up, Mat expressou um pouco desses sentimentos: “exceto por algumas semanas em agosto, quando me permito uma pausa, meu foco tem sido implacável. Deixei passar férias, despedidas de solteiro e mais encontros com a Sammy (esposa) do que posso contar. Tudo para não perder uma única sessão de treinamento ou uma noite inteira de sono. Por oito anos, todos os dias têm sido praticamente iguais: acordar mais cedo do que gostaria, vender minha alma para a Assault Bike, os intervalos de natação e os AMRAPs de 40 minutos, comer, dormir e repetir”.
Com isso, a atitude de Mathew vai muito além de uma parada no topo. Ainda em seu texto, o americano coloca que suas atitudes foram muito bem pensadas e demonstra sobriedade ao revelar: “o trabalho duro valeu a pena. Mas agora, estou pronto para tomar decisões com base em como eles afetam minha família, amigos, saúde e felicidade, não apenas meu desempenho”.
Saída no topo
Claro que todos queriam assistir o CrossFit Games 2021com o imbatível na arena. Aliás, muitos atletas queriam ter ele na arena para tentar tirar o título de campeão dele, não é mesmo Rick Garard? Mas se analisarmos friamente, Mat já vinha dando o seu melhor desde 2015, o corpo sendo exigido ao máximo, treinamentos puxados, entre outros pontos que um atleta de alta performance necessita. Com isso, até quando, por mais que ele tenha mostrando uma diferença absurda dos demais competidores, ele iria aguentar?
A arrancada ao topo foi difícil, porém, mais ainda é conseguir se manter nele com louvor. No Brasil temos diversos exemplos disso, quem não perdeu o fôlego ao ver Anderson Silva e José Aldo nocauteados no auge de suas carreiras? Também podemos destacar diversos outros atletas que chegaram no topo e se seguraram até o momento da queda. Mat Fraser teve uma atitude, seguindo a linha de Froening de parar antes da chegada de um novo fenômeno. Embora seja fato, será muito difícil encontrar alguém que quebre os recordes de Mat, como ele fez com Froening.
“Quase uma década depois (do começo da carreira”, cruzei a linha de chegada no The Ranch segurando a mão da parceira de treinamento que se tornou mais como uma irmã (Tia-Claire Toomey). Juntos, cada um de nós quebrou o recorde de mais campeonatos de CrossFit na história. Ela tinha ficado com a quarta vitória e, contra todas as previsões, eu tinha conquistado a quinta vez”.
Treinamentos abertos à partir de agora
Para finalizar sua carta de despedida, Mat Fraser contou sua nova empreitada dentro do CrossFit, criando um canal no YouTube para mostrar o seu treinamento diário. “Eu nunca quis abrir mão da menor vantagem, então não postei meus treinos, não liberei minha programação, nem mesmo insinuei meus pontos fracos. Em vez disso, eu os treinei, implacavelmente, e no processo ganhei a reputação de ser estóico, talvez até arrogante, dependendo de com quem você conversou. A única vez que estou sob os olhos do público é quando vou trabalhar. Estou focado em meu objetivo. Estou lá para alcançar aquilo que passei centenas, talvez milhares, de horas perseguindo. Isso nunca me incomodou – era um pequeno preço a pagar por ser o maior – mas estou animado para mostrar o tapete que todos próximos a mim sempre viram”.
O americano ainda contou que não pretende abrir um box afiliado da CrossFit, como muitos fazem. Ao invés disso, ele irá criar uma Garage Box onde mostrará em seu canal os seus treinamentos e a maneira como ele conseguiu evoluir e ser o maior atleta do mundo. Mas para quem achava que Mat pararia de vez, ele encerrou seu texto falando que irá realizar o Open. Porém, dessa vez, como um mero mortal e não mais como o grande campeão a ser batido.
E agora como fica?
Ficou no mínimo estranho agora a categoria masculina do Games. Afinal por cinco anos o ponto mais alto do pódio já tinha dono definido, agora está em aberto. O que pode ser uma chance absurda de termos um grande evento em 2021, uma vez que ao longo desses cinco pódios tivemos uma verdadeira dança das cadeiras. Aliás, se quisermos ir mais longe, desde 2015 Fraser ocupou algum dos três lugares.
Para se ter uma ideia, apenas Patrick Vellner dividiu o pódio com Fraser várias vezes: conquistando três pódios consecutivos de 2016 à 2018. Além de Mat e Vellner, tivemos Ben Smith (2016), Brent Fikowski (2017) e Lukas Hogberg (2018). Em 2019 tivemos Noah Ohlsen e Bjorgvin Karl Gudmundsson, enquanto em 2020, tivemos Samuel Kwant e Justin Medeiros.