Doping: ainda merecemos ter vagas para o Games?

Talvez a grande dúvida do público, após os últimos acontecimentos de doping, seja sobre quem irá representar o continente Sul-americano no Nobull CrossFit Games 2022. Afinal, ainda não temos uma resposta oficial da CrossFit sobre as mudanças nas tabelas de classificação. Muito embora a organização já tenha publicado o nome de duas atletas, a argentina Sabrina Dellagiustina, por uso de oxandrolona, e a paraguaia Ines Alviso, por uso de GW1516. Aliás, Ines já entrou com um pedido e está esperando a contraprova.

Outra pessoa a pedir a contraprova foi Pedro Martins, assim que recebeu a informação da organização, via e-mail, de sua desclassificação. Para quem não sabe, a reprovação dos atletas é enviado por e-mail para todos, mas apenas em caso de desclassificação. Para os classificados, nada é enviado, o que para muitos é um erro de comunicação do evento. Aliás, a falta de comunicação por parte da organização é um ponto altamente levantado por todos os atletas à muito tempo.

Até mesmo Pedro teve certa dificuldade para obter respostas na última segunda-feira (11), dia que foi informado pela CrossFit. Contudo, a alegação da organização de que para a prova B dos testes não teria tempo hábil para ficar pronta até o Games, é extremamente desanimadora. Afinal, uma rápida contraprova poderia ser a saída para alguns atletas pegos no doping, poderem mostrar que não estão com nenhuma substância proibida e assim participar do Games.

Mas com essa afirmação da empresa o pedido de contraprova nada mais é do que uma luta para mostrar uma possível integridade dos atletas. Contudo, dificilmente o resulta B irá dar diferente do que o teste A. Talvez essa seja a questão para que o evento não tenha tanto empenho para que se gere uma prova B com maior agilidade.

Todo mundo usa!

O que mais podemos encontrar nos comentários dos posts no Instagram, seja no nosso ou dos demais sites de notícia é: “todo mundo usa”. Essa afirmação primeiramente é muito perigosa. Acusar sem provas podem trazer soluções jurídicas e extremamente prejudicial para todos. Mas a realidade é que dificilmente um atleta em alta performance não faça uso de alguma substância que pode estar em uma lista de doping.

Imagine essa realidade: pegue o workout mais pesado da sua semana, dê o seu melhor durante todo o time cap e acabe ele esgotado, jogado no chão do box. Agora descanse por no máximo uma hora e faça um novo workout tão intenso como o primeiro, lembrando que você deve dar sempre o seu máximo para fechar como o primeiro da turma. Ao final desse segundo workout, você pode descansar mais duas horas e na sequencia terá um novo workout, dessa vez para achar o RM de três repetições de hang squat snatch. Mas não esqueça que você precisa dar o seu melhor e terminar com o maior peso da aula.

Como você acha que terminaria esse dia? Como acredita que seria seu rendimento após o primeiro workout? Você acredita que só tomando Whey e Creatina, seria possível passar por tudo isso com qualidade? Essa é a realidade de todo atleta elite que se propõe a viver do esporte e se joga em competições de alto nível. É praticamente impossível um atleta conseguir ter essa rotina puxada de competidor sem ajuda de medicamentos controlados, que podem agir desde uma ajuda para ganho de força e performance, como também para a recuperação muscular.

O verdadeiro perigo é a desinformação

Verdade seja dita, nada é mais perigoso do que a desinformação e a falta de conhecimento de um assunto. No doping, não é diferente. Quantas vezes escutamos que alguém caiu no doping e logo vem a mente: “está usando bomba para cavalo”. Mas dizemos isso sem nem analisar o que de fato aconteceu. Para se ter uma ideia, o ex-jogador de futebol, Romário, foi pego no doping em 2007 por uso de finasterida. Esse nome é bem conhecido pelas pessoas que sofrem de calvície, afinal, trata-se de um medicamento usado para evitar a queda de cabelos.

Contudo, a substância havia sido proibida pela Agência Mundial Antidoping (WADA, na sigla em inglês) por, segundo o médico especialista, Dr. Eduardo de Rose, o medicamento não aumentar a performance do atleta, mas dificultar a pesquisa para descobrir possíveis substâncias proibidas. “A Wada classifica a finasterida como agente mascarante. Não aumenta força, potência ou resistência do atleta. Ela simplesmente torna difícil ao laboratório detectar anabólicos esteróides. Por essa razão, está na lista de substãncias proibidas”, explicou Rose na ocasião.

Esse exemplo demonstra como muitas vezes as substâncias usadas não significam que o atleta em questão irá ganhar força ou ser superior aos demais. Muitas vezes são usadas de maneira sem intensão e que não mudariam tanto o efeito, como o caso de Romário, ou por alguma contaminação cruzada, como no caso da brasileira Lari Cunha no ano passado, que não sabia da existência da Ostarine em seus medicamentos, ou qualquer outro motivo. Por isso, é extremamente importante ouvir os atletas e entender os possíveis e reais motivos que causaram o doping.

A culpa é de quem consumiu

Para muitos pode parecer absurdo, mas ao que tudo indica, é algo bem visto pelos próprios atletas. Segundo as regras da própria CrossFit, todo atleta é o responsável pelo que consome. Com isso, mesmo que o erro não seja diretamente ou intencionalmente do atleta, ele deverá assumir toda a responsabilidade do caso. Isso foi feito de maneira bem clara por Lari no ano passado e assumida de maneira sensata por Pedro em seu anuncio sobre sua queda no doping.

Atualmente, Lari está processando a farmácia de manipulação que utilizou a Ostarine em uma contaminação cruzada em seu medicamento, Pedro poderá ter alguma atitude do gênero mais pra frente, mas os brasileiros, assim como a argentina e paraguaia mostraram-se bem entendidas desse fato. Até o momento, não tivemos nenhum atleta que tenha testado positivo para alguma substância proibida, reclamando dessa regra da competição.

Merecemos as vagas para o Games?

Essa é uma questão a ser discutida. Obviamente a América do Sul ficou manchada com os últimos acontecimentos, termos tantos atletas pegos no doping é muito triste. Para piorar, o fato de termos tantos classificados perdendo suas vagas, levanta a dúvida, inclusive daqueles que não conseguiram chegar ao pódio. Será que sem o doping, quem não subiu teria mais chance? Ou será que se fosse feito o teste em todos, independente de classificação, a grande maioria cairia?

A Copa Sur contou com três categorias, masculino, feminino e times. Das três, apenas uma até o momento mantem-se integra, que são a das mulheres. Afinal, nem Victoria Campos e nem Julia Kato receberam e-mails da organização referente a testagem de doping. Em contrapartida, no masculino, a saída de Pedro traz de volta ao cenário do Games o argentino Agustin Riquelme, o que faz um repeteco dos classificados no ano passado. Mas vale lembrar que será uma vaga em cima da hora com tudo o que isso significa. Aliás, esse foi o motivo da equipe da Blacksheep dispensar a vaga que lhe foi dada após os dois times classificados caírem no doping.

Fora isso, se continuarmos do jeito que está, no caso dos times, teríamos as equipes da 5ª e 6ª colocação geral conquistando a vaga para o Games. Isso se, vale o adendo, estiverem aptos após o exame de doping. Dessa maneira, temos um mundo de incertezas uma vez que ainda não temos um pronunciamento definitivo da própria organização do evento. Mas obviamente, a América do Sul abriu um precedente e histórico terrível para o continente. Se antes falamos sobre a questão de aumentar o número de boxes, incentivos da marca para o crescimento no país, mais vagas para o Games, e etc. O que a realidade tem se desenhado, não está indo muito bem para os olhares dos donos da marca.

Se merecemos ainda ter as vagas? Deixamos para que você leitor responda essa questão.

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