Junior Carvalho, o coach das estrelas

Por trás de estrelas como Anderon Primo e Leonardo Lima está Junior Carvalho. Por isso, o head coach da CrossFit Bauru é atualmente um dos grandes nomes da modalidade no país. O coach vem viajando o Brasil para ministrar seus cursos e worshops para falar sobre o CrossFit Competitivo. Com passagens pelo TCB 2012, 2013 e 2015, além de ser um dos responsáveis pelo tetracampeonato de Anderon na competição, Junior faz jus o título de melhor “Head Coach” de 2018. Entre uma palestra e outra, Junior falou com a equipe da HORA DO BURPEE e contou um pouco de sua história e como ingressou no CrossFit. Além disso, o coach falou o que pensa das competições atuais, deu dicas de como ser um bom coach e um bom atleta, além de falar dos benefícios de se trabalhar com as planilhas de treino.

Quem é Junior Carvalho e como é o seu trabalho?

Junior Carvalho é um cara apaixonado por esporte e competição (risos). Sempre competi e estive nesse meio das competições. Primeiro com o judô, depois com o jiu-jitsu, até acabei ficando um tempo afastado do esporte, fui trabalhar como personal. Mas durante esse tempo, sempre procurei algo para competir. Aprendi muito com judô, como cuidar da qualidade, da técnica e a importância do movimento plástico e bonito, assim como a eficiência dele. Por isso, eu tenho a característica de cobrar dos meus atletas um padrão mais refinado de movimentos, para que isso gere um maior rendimento no desempenho deles.

Como você ingressou no CrossFit?

Eu ingressei em 2011, trabalhava na época como personal em uma academia. Fiz o curso do Core 360 e me identifiquei com a metodologia do treinamento funcional. Logo em seguida conversei com um amigo e abrimos uma academia de treinamento funcional. Então a Marilia Cremonese, que é uma nutricionista que estava morando em São Paulo viu do prédio dela um pessoal correndo na rua segurando bola e outra hora carregando um ao outro. Ela então desceu para ver o que era e conheceu a CrossFit Brasil, então começou a treinar. Ela era amiga de um amigo e mandou uns vídeos dos treinos para nós. Naquele momento achei interessante e diferente. Assim que cheguei em casa eu fui para o computador para entender o que era aquilo e procurar cursos para aprender a fazer isso, quem sabe até trabalhar com essa modalidade.

Em que momento você decidiu ser Coach e levar o CrossFit como profissão?

Eu fiz um curso no CrossFit Jundiaí, o primeiro curso deles e descobri que o CrossFit tinha essa questão da competição. Eu fiquei “amarradão”, já gostava da metodologia. Mas quando ele falou que também tinha competição, eu me apaixonei mais ainda. Então passei a correr atrás do Level 1* para poder abrir um box. Sou faixa preta de judô e jiu-jitsu, o treino do CrossFit me deu a mesma sensação de quando eu estava na luta e isso mexeu comigo.

Na época eu era personal, mas nunca gostei de trabalhar com a musculação em si, não via muito sentido em como aplicar isso na vida dos alunos e atletas. Mas no CrossFit eu vi essa possibilidade de poder fazer um trabalho diferente na vida das pessoas. Assim como tive muito respeito e reconhecimento na luta, eu coloquei como meta esse mesmo respeito no CrossFit. Por isso, entrei de cabeça para ser o melhor ou estar entre os melhores.

O que é preciso ter para ser um bom coach?

Para ser um bom profissional, independente do que você faz, é ter amor pelo que faz. Gostar, fazer com carinho e dedicação. Procurar sempre fazer o seu melhor, isso é fundamental para qualquer profissão. Não tem nada melhor do que trabalhar com o que você gosta. Por exemplo, eu tenho viajado muito ultimamente para ministrar cursos e workshops. Porém, é uma coisa que eu amo fazer, passo sábado e domingo o dia inteiro falando e cada vez que eu saí dos cursos, saiu feliz e realizado. Essa é a minha vida e eu amo fazer isso. Gosto de compartilhar tudo que eu sei com os outros. Passar conhecimento para frente só nos faz melhor.

Como é a responsabilidade de treinar nomes como Anderon Primo e Leonardo Lima? Existe alguma pressão?

Treinar esses caras existe uma pressão, na real, muito mais para eles que são mais pressionados do que eu, claro. Mas existe uma pressão sim, um olhar crítico para analisar tudo o que você faz e leva isso. Além disso, tem o meu olhar crítico sobre o meu trabalho, sou crítico comigo mesmo e quando faço alguma coisa que eu não fico feliz e não surti o resultado que eu gostaria, me faz buscar algo ainda maior. Mas trabalhar com esses caras é fantástico. Pois eles são muito empenhados, tem claramente o que querem na cabeça. As vezes a gente precisa direciona-los. As vezes eles são bem teimosos, mas por conta da ânsia de chegar e ganhar, ter resultados rápidos. Então a gente as vezes tem que brigar e discutir, mas tudo no bom sentindo para mostrar que estamos no caminho certo.

Como funciona a criação da tabela de treinos a distância?

A planilha de treino funciona muito bem e tem tido ótimos resultados. Porque nessa planilha eu coloco tudo o que o atleta de elite precisa treinar. Assim eu faço uma periodização, uma programação, um calculo de períodos com o que tenho que trabalhar e focar. Vou estudando e vendo sempre como esta sendo feito lá fora, fazendo cursos e especialização e faço isso nos meus atletas. São minhas cobaias (risos), aplico neles e vou fazendo uma análise em cima dos resultados deles para ver o que está sendo proveitoso e se esta realmente surtindo efeito.

Através disso acabo criando o meu padrão de como deve se fazer. Isso a distância funciona muito bem, pois conversamos muito através da internet, eles mandam vídeos e vamos debatendo. Claro que o presencial é mais eficaz, porém o online funciona muito bem, principalmente porque eles são comprometidos e cumprem as planilhas do jeito que eu peço.

O que é necessário para a pessoa se tornar um grande atleta?

Elas precisa de alguns pontos. Primeiro é ter vontade, mas muito vontade. Saber que ser atleta tem um preço alto, por isso a vontade é um grande ponto. Também é preciso ter paciência, para entender que as coisas não acontecem do dia para noite. Entender que existem pessoas que crescem em pouco tempo, mas são alguns apenas alguns fenômenos. Mas a realidade é que um atleta precisa de pelo menos cinco a seis anos para chegar a um nível bom. Muitos atletas de CrossFit querem ter resultados e chegar em alto nível com apenas dois anos de treinamento. Assim, se não conseguirem nesse tempo, eles desanimam.

Esse imediatismo é o que muitas vezes atrapalha os atletas, não confiam no trabalho que é feito e rapidamente mudam de box e coaches. Enquanto isso, no cenário dos esportes olímpicos temos atletas que ficam seis a sete anos treinando com os mesmos técnicos e etc. Então a paciência é um virtude que o atleta precisa ter. Também ter uma cabeça boa e entender que precisa se ter um trabalho mental bom, muitas vezes ele é mais importante até que o físico. Acredito que esses pontos são os importantes para se formar um atleta e ter bons resultados.

Você treina apenas atletas Elite ou também cuida de iniciantes?

Eu trabalho com atletas de elite, pessoas que querem chegar ao elite e com quem é iniciante no CrossFit. A diferença é que os iniciantes eu treino todos eles dentro dos boxes, passando fundamentos e etc. Mas trabalho todos os pontos dos alunos, apenas quando ele consegue fazer todos os movimentos que ele pode passar a pensar em performance, a pensar em ter uma planilha para competição. Não se deve pular etapas e de começo ele deve focar no aprendizado, essas aulas eu dou dentro do box.

Você faz diversas palestras e worshops, o que você tenta passar para as pessoas?

Minhas palestras e worshops são sempre voltadas ao CrossFit competitivo. Assim, levo tudo que acho importante dentro dos treinamentos e preparações, descanso, alimentação, parte mental, como identificar e trabalhar os pontos fracos, programação de treinos, entre outra coisa. Tento trazer para as pessoas tudo o que acontece dentro do meio do CrossFit. Tenho feito cada vez mais esse trabalho de divulgação para ir contra algumas informações absurdas que as vezes acabo me deparando em alguns lugares. Assim posso esclarecer duvidas e mostrar a realidade dos fatos.

Dentro do CrossFit o que você pode classificar como sendo o seu forte na hora das técnicas?

O meu forte, se é que pode se dizer isso, é a forma que eu tento passar as informações para o meu atleta. Tento achar e simplificar o máximo a informação que estou passando. Acho que o meu ponto forte é essa variação na comunicação, mostrando de diversas formas as maneiras como o atleta deve agir. Mas em exercícios, gosto muito da ginástica e do LPO, então tento sempre passar eles para meus alunos.

Como você vê o crescimento do CrossFit no Brasil?

Eu vejo, não somente com bons olhos. Esse crescimento é positivo porque muitas pessoas estão podendo melhorar sua qualidade de vida e melhorar a saúde. Porém, o crescimento muito rápido dele traz muitos interesseiros querendo surfar a onda do CrossFit. Pessoas que querem tirar dinheiro do que o CrossFit está dando, é o caso desse monte de competições para Scaled e times que na realidade são verdadeiras gincanas.

Eles não são um teste de capacidade física, mesmo porque não testa a resistência e os Time Caps são de oito a 10 minutos, tem até de três minuto. Isso para dar tempo de todos competirem e de encher ainda mais o evento. Eu vejo isso como um aproveitamento do CrossFit que as pessoas fazem para ganhar dinheiro. Sem se preocupar se é bom ou ruim para o CrossFit, acho que isso é um tiro no pé. Pois não existe um trabalho de retorno, formando bons coaches e alunos para ser algo positivo para todos e não fazendo eventos onde as pessoas se machucam e saiam frustradas e perdidas.

Infelizmente em muitas competições temos atletas disputando em categorias inferiores aos seus níveis, como você isso? Existe, na sua opinião uma maneira de se fiscalizar esse tipo de coisa?

Na minha sincera opinião, competição deveria ser apenas para RX. Assim, a competição é feita só para quem sabe competir. Não concordo com competição com atletas Scaled, se eu quero que um atleta meu faça a competição, eu prefiro fazer uma competição interna, onde eu terei controle do que ele está fazendo. Esses tempos fui em uma competição Scaled e fiquei horrorizado com o que eu vi. Coisas que não trazem beneficio nem aos alunos e nem ao CrossFit. Por fim de tudo, você ainda vê atletas que muitas vezes são elite e competem em nível mais baixo para ganhar. Para mim, as pessoas primeiro teriam que ter vergonha na cara de fazer algo assim, segundo transforma o evento em algo apenas para ganhar dinheiro. Por isso, na minha opinião competição teria que ser apenas RX.

Trocamos as bolas, antigamente tínhamos o Scaled em menor quantidade do que RX, por ser uma modalidade para as pessoas testarem, mas hoje temos 16 baterias de Scaled e apenas uma de RX, ou seja, inverteu os papéis.

Como você vê a questão do Doping nos eventos brasileiros? Como evitar isso?

Essa questão infelizmente é muito difícil de se controlar. Até mesmo nos Estados Unidos é muito difícil. No Games o próprio David Castro disse que não pode garantir que todos os atletas nunca teriam usado. Isso é frase de quem sabe que o doping existe, mas que não consegue provar. Infelizmente o antidoping é muito caro, por isso, dificilmente teremos aqui no Brasil. Assim, temos atletas que perderam a mão, mulheres que perderam a mão. Mas infelizmente nosso esporte é muito amador ainda, o que muitas vezes deixam as competições injustas. Mas é o preço que se paga pela ganância. Eu gostaria muito que existissem os testes, mas acho muito difícil, ainda mais no Brasil.

Junior Carvalho também compete? Quais os eventos você já participou?

Já competi e muito (risos). Hoje estou com um ritmo de trabalho muito grande, então não estou com tempo e nem foco para treinar para competições. Ano passado eu participei da seletiva do TCB, me classifiquei. Porém na inscrição eu tinha 16 atletas para cuidar para o TCB. Hoje eu não consigo fazer os dois, por isso para esse ano estou fazendo alguns treinos mais leves e se aparecer algum torneio que eu goste e que nenhum aluno meu vá, ai sim eu participo.

Junior Carvalho com Tiago Alves

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